domingo, 24 de maio de 2015

DESIDRATAÇÃO e os perigos por trás do sacrifício

“Especialistas divergem sobre os riscos do processo que leva atletas a perderem e recuperarem muito peso em um curto espaço de tempo.”

Véspera de competição é sinônimo de sofrimento para muitos lutadores. A maioria dos atletas se submete a uma sacrificante e perigosa rotina para bater o peso da categoria, uma vez que se utilizam da famosa técnica da desidratação ou "secagem", onde perdem vários quilos a poucos dias da pesagem do evento. A técnica é antiga e utilizada na maioria dos esportes de combate, onde as medidas oficiais são tiradas pelo menos um dia antes das lutas. Na prática, os atletas perdem apenas líquido, que é recuperado em algumas horas. Apesar de tradicional, a "secagem" exige cuidados, e até hoje há muita discussão em torno dos seus males para a saúde.
O sacrifício da desidratação, no entanto, muitas vezes traz complicações para alguns lutadores. É comum terem de tomar soro na veia após a pesagem, por conta de uma desidratação muito agressiva para baixar de categoria.  
Apesar do temor de muitos, o processo de perda controlada de líquidos tem o respaldo de uma ala da medicina. O médico ortomolecular Hélio Ventura, afirma não vê qualquer problema em praticar a técnica com o acompanhamento de um especialista. E faz questão de destacar que a "secagem" hoje é uma necessidade no MMA, uma vez que quase todos os atletas usam a técnica para ganhar peso entre a subida na balança e a hora da luta. Ele ressalta ainda que os americanos costumam levar vantagem, pois a maioria dos lutadores do país estão acostumados a perder e ganhar peso com facilidade desde cedo.
A médica ortomolecular da Academia da Praia, na Zona Oeste do Rio, Janaína Barboza considera o método perigoso e danoso ao organismo. Segundo a especialista, o indivíduo que se submete a um processo de "secagem" está colocando sua saúde seriamente em risco. Segundo a médica, as intercorrências que podem aparecer vão de falência renal ao aumento das toxinas no sangue (toxicemia) e também da frequência cardíaca.
Especialistas ouvidos pelo portal G1 condenam a prática da desidratação. “Nunca faça isso, em nenhuma circunstância”, afirma o médico Nabil Ghorayeb, especialista em cardiologia e medicina do esporte. “Desgasta muito o corpo. É uma agressão metabólica”, concorda Mirtes Stancanelli, nutricionista do esporte e professora da Unicamp.


- Todos sabemos que não faz bem à saúde, mas no meu caso, estou bem, porque estou acostumado a este processo  - afirmou José Aldo.



Efeitos
Ghorayeb considera esse tipo de prática um absurdo. “Tem que ficar claro que o que se está perdendo é líquido”, explica. A desidratação deixa o sangue mais espesso, pode causar trombose e até a morte por diminuição de potássio e de sódio, com uma parada cardíaca. “As células cardíacas precisam disso, e se não tiverem a quantidade certa, o coração simplesmente desliga”, aponta o médico.
A prática de exercícios numa situação de desidratação também oferece o risco de uma hipertermia (hiperaquecimento), ressalta o médico. Mirtes Stancanelli explica que o aquecimento excessivo do corpo causa uma desnaturação das proteínas, como as enzimas, prejudicando o metabolismo. “Dificulta processos importantes de gerar energia, até para coisas simples”, explica. Assim, a desidratação pode levar a um aumento dos batimentos cardíacos, diminuir a concentração, a capacidade de raciocínio e os reflexos, alerta a especialista.

- Uma palavra que cabe bem aí é estresse. Quando você se submete a um processo desse, você está lançando sobre o seu corpo uma grande quantidade de estresse. Desidratar o corpo é arriscado mesmo para atletas, já que muitos destes têm uma saúde apenas aparente – afirma a médica ortomolecular Janaína Barboza.


                A morte do lutador de MMA Leandro Caetano de Souza, conhecido como Leandro Feijão, de 26 anos durante o processo de desidratação para uma luta, levanta questionamentos sobre a prática de perda de peso por este processo, como ele vinha fazendo para entrar na categoria mosca. O laudo do IML diz que o lutador sofreu um AVC hemorrágico e que houve uma evolução de uma doença pré-existente. A família, no entanto questiona essa conclusão e associa a morte à forma de preparação adotada pelo rapaz.
                No caso de Feijão, ele chegou a desmaiar enquanto estava na sauna, mas insistiu em continuar no processo de desidratação segundo seu treinador, André Chatuba.


Palavra de especialista: Impacto negativo

MÁRCIO LAURIA - ENDOCRINOLOGISTA E PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA UFMG

Variações bruscas de peso em poucos dias se devem basicamente à perda ou ganho de água. Em geral, 60% do nosso peso corporal se deve à água. Obviamente, a perda brusca de peso pode desencadear um quadro de desidratação, com todas as suas consequências negativas para o metabolismo e para o funcionamento de órgãos como os rins e o coração. Todos esses processos utilizados atuam na mobilização do líquido corporal e provocam desidratação intra e extracelular. Processo semelhante é visto nas clínicas de emagrecimento rápido e milagroso. A recuperação do peso se deve à hiperhidratação com soluções que muitas vezes podem também trazer prejuízos para um organismo que estava tentando se adaptar àquela desidratação que lhe tinha sido imposta, sobretudo em pacientes com alguma doença de base não identificada, como um mal renal ou cardíaco. Se para o atleta profissional, que de uma certa maneira é teoricamente saudável e está sendo monitorado por alguém, isso traz riscos, que dirá para um atleta amador ou para um indivíduo comum, que não tem nenhum tipo de acompanhamento e provavelmente não terá nenhum benefício com isso.


Fontes:
- Site COMBATE - Por Flávio Dilascio
- Site G1, Bem Estar


Sawadee Krap